Em 1789, o Rincão de Santa Maria é concedido em sesmaria a Francisco Antônio Henriques de Amorim (13.068 ha.), residente na Freguesia de Nossa Senhora da Cachoeira, onde era sesmeiro desde 1780. Nunca desfrutou sua nova sesmaria e logo a vendeu ao Padre Ambrósio José de Freitas. Em 1791 o Pe. Ambrósio recebeu permissão para confessar no oratório de sua estância, cuja sede ficava na região ao sul do cerro do Cardoso (ou do Abraham), nas margens do atual Arroio Cancela, imediações do "Lar das Vovozinhas" Entrementes, a região era toda dividida em sesmarias, entregues aos primeiros moradores: Antonio Dias Gonçalves (nas Tronqueiras), Rosa Maria de Souza (a oeste do Passo D'Areia), Antonio da Costa Pavão (no Banhado de Sta. Catarina), Inácio Veloso da Fontoura (na Restinga Seca), Policarpo José Soares de Lima (no Arroio do Só), somente para citar alguns dos inúmeros moradores da região.
Alguns anos mais tarde, em julho de 1797, chega a esta região a Partida da 2ª Subdivisão da Comissão Demarcadora dos limites entre terras de Portugal e Espanha. Acampa em terras da estância do Padre Ambrósio, na crista da coxilha onde hoje se assenta o centro da cidade: Praça Saldanha Marinho e Rua do Acampamento.
Até inícios de 1798 foram chegando os demais componentes da Comissão Demarcadora, entre os quais o Pe. Euzébio de Magalhães Rangel e Silva, que, como capelão, logo instalou o altar móvel na capelinha construída junto ao acampamento. Já no dia 17/02/1798 foi registrado o primeiro batizado: a criança recebeu o nome de Florisbela.
Faziam parte da Comissão acampada o Dr. José de Saldanha, astrônomo, Francisco das Chagas Santos, engenheiro, que elaborou o primeiro mapa da região, onde localiza as estâncias existentes e suas respectivas sedes. O acampamento da comissão está perfeitamente localizado, com 5 galpões, 2 no sentido leste-oeste em terreno onde se encontra a Praça S. Marinho e 3 no sentido norte-sul, sobre o traçado da atual Rua do Acampamento. Em torno desse núcleo inicial, foram construindo seus ranchos os militares acompanhados de suas esposas e os comerciantes que forneciam a tropa. Cresceu rápida a novel povoação, atraindo para seu derredor os moradores da região e os recém-chegados. As primeiras ruas foram se delineando, todas chegando ao núcleo do acampamento. A Pacífica, que demandava o Passo D'Areia, origem da Rua Dr. Bozano. A São Paulo que logo ficou conhecida como Rua do Acampamento.
Com a conquista das Missões - epopéia da qual participou Manoel dos Santos Pedroso Fº (Maneco Pedroso), morador nesta região, na estância do Sarandi, hoje pertencente ao Campo de Instrução do Exército - a Comissão Demarcadora foi deslocada para cima da serra, com a missão de ocupar os territórios incorporados à Província de São Pedro do Rio Grande.
Após a retirada da Comissão, o rancherio foi ocupado pela população que, nessa época já ascendia a umas 400 pessoas. Logo também chegaram índios missioneiros que se estabeleceram na Aldeia dos Índios, região hoje ocupada pela Praça Roque Gonzalez, Hospital de Caridade e imediações, entre as duas sangas: a que nasce perto da Rua do Acampamento, no trajeto paralelo à Rua Tuiuti e a outra que nasce nos fundos do Hospital de Caridade, mais próximo do Colégio Centenário. O caminho que passava pelo centro da Aldeia e ligava com a Rua do Acampamento é hoje a Rua Pinheiro Machado e sua extensão originou a Av. Presidente Vargas.
Até então, nada do que aqui se fez teve caráter de permanência, tanto que o Pe. Ambrósio passou a reivindicar a desocupação de suas terras. Nesse momento, porém, surge um homem com a determinação de dar continuidade ao núcleo urbano nascente. Opondo-se ao desejo do Pe. Ambrósio, o Capitão Manoel Carneiro da Silva e Fontoura - comandante do Distrito Militar do Vacacaí, criado logo após a dissolução da Guarda Portuguesa do Passo dos Ferreiros, em 17/02/1802 - requereu licença para erguer um oratório público no Acampamento de Santa Maria. A licença foi concedida e o Pe. Ambrósio, descontente, retirou-se para S. Borja, onde assumiu o vicariato.
O Cap. Carneiro da Fontoura tornou-se o líder natural, não só por ser a pessoa mais importante, mas porque teve, desde o início, a determinação de dar as condições de desenvolvimento para a povoação.